Entrevista

“Conheço bem o fluxo e como funcionam as coisas”

Recém nomeado para representação do governo do Estado em Brasília, Henrique Pires fala sobre o trabalho, a relação com parlamentares e relembra sua conturbada saída da gestão Bolsonaro

Rafael Vargas - Casa Civil RS - DP - Após breve período no Simers, Pires volta a ocupar cargo político dentro de um governo

Escolhido pelo governador Eduardo Leite (PSDB), Henrique Pires assume esta semana o cargo de chefe do Escritório do Governo do Rio Grande do Sul em Brasília. Natural de Pedro Osório, Pires já atuou como assessor em Brasília e, recentemente, na Prefeitura de Pelotas. No começo do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), foi secretário especial de Cultura do governo federal, função que deixou em agosto de 2019 por discordâncias com a gestão, mergulhada em uma série de polêmicas envolvendo a política cultural do País. Seu último trabalho vinha sendo na assessoria de relações políticas do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers). Às vésperas de retornar a Brasília, Henrique Pires conversou com o DP sobre os objetivos e desafios do novo cargo como representante do Palácio Piratini na capital federal.

Como se deu esse convite por parte do governador Eduardo Leite?
Eu acompanho a trajetória do Eduardo Leite desde o tempo em que ele concorreu a vereador pela primeira vez. Quando se elegeu governador, me convidou para vir para o secretariado dele, que eu estava no time, só não me disse onde iria me escalar. Nisso, ele foi para Londres e nesses nove dias minha vida virou de cabeça para baixo. Eu estava ajudando na transição [para o governo Bolsonaro] e me convidaram para ficar no governo federal na condição de secretário especial da Cultura. Quando o Eduardo voltou, eu falei “vou ser ministro”. Era um orçamento de Ministério da Cultura, com seis secretarias nacionais, e era um desafio. Quando eu saí da Secretaria, vim para Pelotas e a Paula [Mascarenhas, prefeita] me chamou para trabalhar na assessoria da Prefeitura, um trabalho intenso em um ambiente de pandemia e foi muito bom ter estado em Pelotas nesse período. O Simers me convidou para trabalhar na formulação de algumas políticas públicas. O governador me ligou, fez o convite e achei que seria um bom momento para voltar a Brasília, uma cidade que gosto muito. É uma cidade interessante depois que tu entendes a dinâmica. Quando fui indicado no governo Bolsonaro, fui colocado como uma escolha técnica e consegui levar tecnicamente muitas coisas. Através do Conselho Federal de Direitos Difusos, do Ministério da Justiça, foi possível conseguir recursos para, por exemplo, o Museu da Baronesa, a fase 3 do Theatro Sete de Abril, uma série de coisas que me deixaram muito satisfeito, embora eu tenha saído no primeiro ano do governo e tenha identificado coisas que o País custou um pouco mais para identificar, mas isso é passado.

Qual a função desse escritório do Estado em Brasília?
O escritório é ligado à Casa Civil do Estado e faz a interlocução com a bancada federal gaúcha no sentido de potencializar o resultado das ações que eles empreendem. O escritório tem um corpo técnico qualificadíssimo que faz a parte documental que precisa ser feita para que o governo possa executar o que os deputados e senadores propõem. Agora nós estamos vivendo uma fase bastante interessante, com o Rio Grande do Sul tendo equalizado seus problemas financeiros. O Estado tem fôlego para contrapartidas, para obras e outras coisas. Estamos esperando um volume de trabalho bastante grande, mas ao mesmo tempo fico tranquilo porque já vi que a equipe é de máxima qualificação.

A experiência no governo Bolsonaro não gera uma barreira tanto com o governo do PT quanto com a oposição bolsonarista?
Antes de entrar no governo Bolsonaro fui chefe de gabinete de dois ministros de Estado, então conheço bem o fluxo e como funcionam as coisas. Por outro lado, a minha atuação no governo federal foi extremamente técnica e politicamente não houve problema, porque minha saída foi pontual. Houve um desacerto, uma questão contra a qual eu me insurgi envolvendo um concurso público. Eu não tive qualquer problema jurídico. Infelizmente algumas pessoas que não atenderam os sinais que fiz estão respondendo ações no STF. Na época, havia uma expectativa de que algumas pessoas fizessem as coisas que a lei não permitia. Para mim, a Constituição é a bíblia que rege a atividade no setor público. O que a Constituição permite a gente faz, o que ela diz que não, é não, e o que ela não diz, também não se faz. Então não tenho problema nenhum. Nesse tempo tive contato com parlamentares de todas as bancadas, justamente por isso. Se as pessoas dão um tratamento republicano e são técnicas, não tem problema.

Como avalia o atual momento na relação entre os Poderes?
Me parece que as pessoas estão bem imbuídas desse espírito republicano. As coisas não devem depender de vontades pessoais. Tem uma população inteira que paga impostos e que quer serviços. Nós precisamos achar consensos, a Câmara dos Deputados e o Senado funcionam assim. Nosso trabalho é achar o consenso para permitir que a coisa flua e que os serviços públicos sejam prestados da melhor maneira. Me parece que nós estamos vivendo um momento muito bom de republicanismo.

Quais são os principais desafios do Rio Grande do Sul hoje e como as relações institucionais em Brasília podem enfrentá-los?
A capacidade de investimento do Estado hoje é completamente diferente de cinco anos atrás. Isso permite que o Estado possa firmar parcerias e dar contrapartidas que são importantes e certamente isso vai representar um incremento no número de obras e programas. Nos próximos dias vou começar nos setores onde já há coisas encaminhadas, tentando agilizar. Seguramente vamos ter um contato muito grande com a bancada gaúcha, que é muito boa. Uma bancada de líderes que têm posições muito importantes não só dentro de seus partidos, mas nas comissões temáticas das quais fazem parte. Esse trabalho de comissões eu respeito muito, porque ali muitas vezes se decidem coisas que, dependendo, nem vão ao plenário. Em cada comissão que a gente olha tem um gaúcho com uma posição de destaque.

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